Professor e policial; principais vítimas do trabalho que adoece a mente

Prefeitura de Campo Grande registrou no ano passado 1.297 afastamentos de servidores por doenças psiquiátricas


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Os transtornos mentais relacionados ao trabalho têm como vítimas preferenciais professor, policial e agentes de saúde.

 

A prefeitura de Campo Grande registrou no ano passado 1.297 afastamentos de servidores por doenças psiquiátricas. Em 2013, o número foi ainda maior: 1.429 servidores. As categorias com maior índice de doenças psiquiátricas são professores e agentes comunitários de saúde.

 

“Um dos grandes problemas é a indisciplina, que gera bastante ansiedade, desencadeando uma série de problema psicológicos, emocionais”, afirma o presidente da ACP (Sindicato Campo-grandense dos Profissionais de Educação Pública), Lucílio Souza Nobre.

 

O sindicato faz uma pesquisa sobre a saúde dos professores. O último levantamento foi feito há seis anos. “Para que tenha condições de falar as causas e principais problemas. Um boletim para ser entregue aos planos de saúde, para dar um suporte”, diz.

 

A reportagem solicitou em 4 de abril ao governo do Estado o número de afastamento de servidores por doença psiquiátrica e categorias, mas não recebeu resposta até a publicação da matéria.

 

Levantamento realizado no ano passado entre pacientes da Cassems (Caixa de Assistência dos Servidores), para subsidiar artigo científico, aponta que os transtornos mentais e comportamentais predominam nos profissionais de educação (27%), segurança (19%) e saúde (17%).

 

Para atender a demanda, o plano de saúde tem o Ciaps (Centro Integrado de Atenção Psicossocial) em Campo Grande, inaugurado em abril de 2016. A rede de atendimento conta com psiquiatra, psicólogo, terapeuta ocupacional, assistente social, enfermeiro e nutricionista.

 

De acordo com a psiquiatra Gislayne Budib Poleto, as categorias que mais buscam atendimento relacionados ao trabalho são policial, professor e bombeiro. “Também tem administrativo, técnico de enfermagem, enfermeiro, médicos. Encaminhamos para o psicólogo, terapia ocupacional. É um atendimento integrado”, afirma a especialista.

 

Rotina policial - “Não temos dados estatísticos, mas a gente sabe da necessidade do nosso pessoal. Tudo influencia na vida psicológica do policial, mal remuneração, problemas familiares, escala apertadíssima”, afirma o presidente da ACS (Associação e Centro Social dos Policiais Militares e Bombeiro), Mario Sérgio Flores do Couto.

 

Ainda de acordo com ele, os policiais são sujeitos ao RDPM (Regulamento Disciplinar da Polícia Militar). “É arcaico, baseado no Exército. Ainda temos hoje quem comanda a ferro e fogo, impõe o RDPM, as punições. Tem policial que está enfrentando problema, precisa de transferência de cidade, mas não autorizam só por vaidade”, diz.

 

Nesta semana, a entidade passou a oferecer atendimento com psicóloga aos sócios e familiares. O serviço se soma ao que já é ofertado pela Cassems e pelo FAF, um fundo de amparo ligado ao Comando Geral. A ACS tem 3.200 sócios em Mato Grosso do Sul.

 

A psicóloga Alícia Izidre do Couto afirma que a profissão exige demais dos policiais e, por tabela, dos familiares. Além do controle externo inerente ao trabalho, como da imprensa e entidades ligadas aos direitos humanos.

 

“Hoje, o policial não tem autonomia para fazer o seu trabalho. Existe pressão, direitos humanos”, afirma. Segundo Alícia, os pacientes também tendem a ser mais fechados. “Não gostam de mostrar fraqueza, mas é um ser humano e precisa ser ouvido”, afirma.


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