Coveiro, profissão que exige força e coragem, mas não ensina a lidar com a morte


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Ninguém sabe ao certo quando ou onde surgiu a profissão de coveiro, a única certeza é que a atividade não pode ser exercida por qualquer pessoa. A função, quase nunca lembrada e desvalorizada, é responsável por preparar o lugar onde ficará o que sobrou da vida e para isso são fundamentais força e coragem, no entanto, a função não ensina a lidar com sua principal cliente, a morte.


Depois de trocar a tranquilidade da roça pelo \'marasmo\' do cemitério, Francisco Alves da Silva, de 59 anos, que trabalha há 27 no Santo Antônio, já passou por várias funções. Nos dez primeiros anos trabalhou como coveiro. Nesse período ouviu inúmeras histórias sobre fantasmas, mas quanto a isso, ele já está tranquilo.


“Não me impressiono mais”, garantiu. Segundo o sepultador, a profissão que ensina a lidar com o medo não oferece manual para driblar as angústias e aflições sentidos perante a perda de um familiar ou ente querido.


“Participei do enterro do meu pai, sobrinhos e sogra e apesar de toda a experiência da profissão, nessas horas a gente sente que nunca está preparado para lidar com a morte. Depois que meu pai morreu fiquei muito abalado e por anos não consegui participar dos sepultamentos e acabava pedindo a ajuda de algum colega de trabalho”, relatou.


Coveiro há 13 anos, Daniel Genuário Filho, de 50 anos, também trocou a roça pelo cemitério. Ele disse que apesar de a profissão exigir discrição em relação à sensibilidade, há momentos em que é impossível fugir das reflexões sobre a linha tênue que divide vida e morte.


“Não me importo em enterrar as pessoas porque faz parte da vida. Assim como já enterrei muita gente, um dia alguém vai ter que me enterrar também, mas não gosto de enterrar crianças porque elas não viveram a mocidade. Adulto é diferente, os anjinhos não conheceram o mundo, mas essa é minha profissão e faz parte da vida”, lamentou.


Para Fábio Alves da Silva, de 31 anos, que trabalhou como sepultador por nove anos, a profissão desperta, além de curiosidade, o preconceito. \"Me olhavam de forma estranha quando eu dizia que era coveiro. Sentia muito essa diferença ao fazer cadastros em lojas\", contou.

Fábio, que se sentia constrangido com a atividade exercida, trocou a função de coveiro para trabalhar em uma marmoraria, no entanto, não ficou livre dos cemitérios. “Às vezes tenho que fazer a colocação de pedras em jazigos, mas pelo menos ganho mais”, brincou.


Carga horária e Remuneração


Além de sepultar os mortos, os coveiros também colaboram com a organização dos cemitérios, limpeza das covas e jazigos, carregam os caixões e participam de exumações.

De acordo com a Fetracom (Federação dos Empregados no Comércio e Serviços de Mato Grosso do Sul), atualmente, em Campo Grande a atividade oferece salário de R$ 829,00 e nos municípios do interior do Estado, R$ 780,00.


A carga horária dos coveiros é de 44 horas semanais e a partir de 1º de novembro deste ano, os trabalhadores receberão reajuste salarial e a remuneração na Capital será de R$ 900,00. No interior o pagamento é de R$ 840,00. A Fetracom não soube informar o número de profissionais no Estado



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